Terapia Cognitiva e Behaviorismo Radical: Diferenças, pré-conceitos e terapias cognitivo-comportamentais

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Posted by Fernanda Wagner | Posted in | Posted on 11:56


Dentro da Psicologia existem muitas teorias que são utilizadas pelos psicólogos como instrumentos para o auxílio à compreensão  do comportamento e da mente humanas. O objetivo deste artigo é conceituar brevemente as ciências cognitivas, o behaviorismo radical, e as terapias cognitivo-comportamentais, de acordo com as diferenças entre cada uma e os mitos enfrentados, partindo da idéia de que: (1) ciências cognitivas, (2) behaviorismo radical , e (3) terapias cognitivo-comportamentais são coisas distintas. A primeira diz respeito ao estudo científico da mente que compreende várias linhas de investigação, como filosofia, neurociência e psicologia cognitiva, dentro da qual está situada a terapia cognitiva como prática clínica ( Shinohara, 2001). A segunda é a filosofia da ciência do comportamento, que tem como uma das abordagens a análise do comportamento (Moreira e Medeiros 2007). A terceira diz respeito a um “sistema de psicoterapias” que tem como referência espistemológica duas grandes áreas: O objetivismo ou racionalismo e o construtivismo. De modo geral estas duas bases epistemológicas

abrangem diferentes classes de terapias, tais como terapia racional Emotiva, Terpaia da Solução de Problemas, Terapia Cognitiva de Beck, etc, que se orientam para diferentes graus de mudanças comportamentais e/ou cognitivas, influenciadas pelo background de cada teórico.( Shinohara, 2001, p. 19)

Consoante Bahls e Navolar (2004) a teoria cognitiva tem como objetivo a descrição dos processos cognitivos envolvidos em determinada psicopatologia de maneira que quando ativados em contextos específicos podem caracterizar-se como mal-adaptativos ou desfuncionais. Segundo Facolne (2004) as ciências cognitivas são defendidas por aqueles que consideram o estudo de processos cognitivos um avanço enriquecedor para a abordagem comportamental tradicional.
De acordo com Moreira e Medeiros ( 2007) o Behaviorismo não é a ciência do comportamento humano, mas sim, um tipo de filosofia que embasa teóricamente esta ciência,ou seja, que questiona, entre outras coisas, a possibilididade de existência dessa ciência e quais os métodos ela pode utilizar, não podendo, portanto, ser classificada como uma abordagem da Psicologia.       
Myers (2000)  define preconceito é avaliação negativa de algum grupo e seus membros individuais feito na forma de um pré-julgamento, que é composta de sentimentos, tendências comportamentais e convicções.
Dell e Hareless ( 1992 apud Weber, 2002) descreveram cinco mitos apresentados comumente contra o Behaviorismo: (1) não considera o papel da genética e da fisiologia para o comportamento, em outras palavras, argumenta que todo comportamento é adquirido durante a vida do indivíduo (Moreira e Medeiros, 2007), (2) acredita que qualquer comportamento pode ser condicionado, (3) negligencia a individualidade de cada pessoa, só se interessando pelos princípios gerais, (4) utiliza a punição como controle do comportamento e (5) nega a existência de eventos internos, como consciência, sentimentos e estados mentais, e não tenta compreende-los. (idem, 2007) Além destes, Moreira e Medeiros (2007) citam outros exemplos de crenças equivocadas contra o Behaviorismo Radical, como:

Não consegue explicar as realizações criativas [...] Trabalha com animais, particularmente com ratos brancos, mas não com pessoas, e sua visão de comportamento atém-se àqueles traços que os seres humanos e os animais têm em comum. ( p.219-220)
  
É grande o número de experimentos que evidenciam o preconceito em relação ao behaviorismo radical e os fatores responsáveis pelo surgimento das críticas são vários. (Weber, 2002; Rodrigues, 2006) As críticas são feitas em relação à falta ou ao conhecimento errôneo sobre o tema, que leva com que as pessoas considerem tal filosofia autoritária, democrática, violenta e desumana, e por se referirem ao Behaviorismo proposto por Watson, ou seja, o não Radical, uma vez que o termo radical é devido ao fato de Skinner ter rompido radicalmente com algumas das idéias de Watson, como a do dualismo(1), em que eventos privados eram diferenciados dos eventos públicos, mentalismo (2) significando que nega que os comportamentos sejam causados por eventos mentais, (3) “para Skinner, as explicações baseadas em eventos mentais são superficiais e não chegam à raiz dos determinantes do comportamento.” (Moreira e Medeiros, 2007, p. 219) Além destes, os outros mitos são explicados corretamente em um vasto número de autores que tem a dismitificação destes mitos  como objetivo central, como no caso de Weber (2002), Rodrigues (2006) e Moreira e Medeiros (2007). As idéias equivocadas a respeito do behaviorismo faz com que as pessoas tenham sentimentos negativos que levem a tendência de evitar este tipo de prática, principalmente no caso de estudantes de curso de graduação de psicologia como acrescentam Weber (2002) e Rodrigues (2006).
Além do preconceito que existe “contra” o behaviorismo, há também o desconhecimento sobre a diferença entre os termos utilizados e sobre cada prática citada neste texto ( terapia cognitiva, behaviorismo radical e terapia cognitivo-comportamental). Esta última, muitas vezes é classificada como tendo técnicas iguais as utilizadas por analistas do comportamento, quando na realidade são a junção entre os conceitos e técnicas da psicologia cognitiva e da comportamental (Bahls e Navolar, 2004) . Em resposta a pergunta
Existe uma análise de que o behaviorismo estaria perdendo espaço para uma associação entre behaviorismo e cognitivismo. Isso está acontecendo? Que diferenças você vê entre behaviorismo e cognitivismo? ( Banaco em Entrevista com Hélio Guilhardi, 2004)

Que leva em conta as práticas da terapia Cognitivo-Comportamental e Behaviorismo Radical, Guilhardi responde que

Do meu ponto de vista, o behaviorismo radical e a terapia comportamental cognitiva são irreconciliáveis, porque partem de pressupostos completamentes diferentes. O cognitivismo é mentalista e o behaviorismo radical não. O que aproxima um do outro é a palavra comportamental, mas é muito pouco, porque se nós fôssemos discutir com um terapeuta comportamental cognitivo iríamos verificar que inclusive a definição de comportamento não vai coincidir. O cognitivismo é uma forma de mentalismo, de mecanicismo e atribui ao mental uma força causadora, iniciadora de outros comportamentos que não coincide com a maneira como o behaviorismo radical conceitua e trabalha o comportamento. O caminho não está numa síntese das duas propostas. Uma não enriquece a outra. Ambas merecem respeito, tendo pessoas sérias trabalhando e pesquisando, mas eu acho que o ecletismo que as coloca juntas é pernicioso. Cada qual tem uma maneira muito própria e diferente de ver o seu objeto de estudo.

Entretanto, Shinohara (2001) explica que todas as abordagens da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)  
 partilham da posição mediacional, acreditam que mudanças terapêuticas podem ser alcançadas através da alteração dos modos disfuncionais de pensamento, provenientes da teoria da psicologia cognitiva, e muitos de seus métodos se baseiam em princípios e técnicas comportamentais, além de utilizarem dados comportamentais como ínidices de progresso terapêutico. (p. 19)

A diferença é que segundo a TCC são as percepções que os indivíduos tem dos eventos que causam os pensamentos disfuncionais que resultam em mudanças emocionais, e não os eventos em si (Shinohara, 2001).
Neste caso, o preconceito não pode ser deifinido como uma avaliação negativa, mas sim no sentido natural da palavra “pré-conceito”, ou seja, elaborar idéias e convicções antes de entender o real significado.
A Conclusão é que o preconceito existe dentro da psicologia, na qual psicólogos de outras abordagens e senso-comum, “rotulam” e avaliam negativamente as teorias referidas aqui, sem ao menos conhecê-las direito.

 Referências

BAHLS, S.C.NAVOLAR, A.B.B. Terapia cognitivo-comportamentais: conceitos e pressupostos teóricos. Disponível em: . Acesso em: 4 de jun. 2010
FALCONE, E. Terapias cognitivo-comportamental e behaviorista radical: São diferentes? Disponível em: . Acesso em: 4 de jun. de 2010
GUILHARDI,H. Diálogos: O ser humano à luz de seu comportamento. Fortaleza: Centro de Estudos em Psicologia, 2004. Disponível em: . Acesso em: 5 de jun. De 2010
MOREIRA,M.B.;MEDEIROS,C.A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007
MYERS, D.G. Preconceito: O ódio ao Próximo. Em: Psicologia Social. Rio de Janeiro: LTC, 2000. pp. 181-206
RODRIGUES,M.E. Behaviorismo: mitos, discordancias e preconceitos. Em: Rev. Educere et Educare. v.1.n.2.jul/dez 2006. pp 141-164
SHINOHARA,H.O. Conceituação da terapia cognitivo-comportamental. Em: Sobre comportamento e cognição: aspéctos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista. BANACO,R.A.(Org.)1.ed.v.1. Santo André: ESETec,2001. pp. 18-21
WEBER, L.N.D. Conceitos e pré-conceitos sobre o behaviorismo. Em: Rev. Psicologia Argumento.v.20.n.31. Out 2002
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